Artigo de
Espiritualidade de Dom Walmor Oliveira de Azevedo
BELO HORIZONTE,
sexta-feira, 25 de maio de 2012 (ZENIT.org)
- Publicamos a seguir um artigo de espiritualidade enviado para os leitores de
ZENIT, por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte.
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Por Dom Walmor
Oliveira de Azevedo
O Papa Bento XVI
intitulou assim a sua mensagem para o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais,
celebrado pela Igreja Católica no mundo inteiro, no domingo último, festa da
Ascensão do Senhor. Esta temática, silêncio e palavra, caminho de
evangelização, é oportunidade para ricas reflexões sobre aspectos importantes
do processo humano de comunicação.
De determinante
importância, em todos os níveis e instâncias, a comunicação e seus processos
merecem sempre maior atenção, particularmente em se tratando de sua
qualificação. Gera o diálogo, que é força motriz para a novidade pretendida em
termos de solidariedade, de organização social e política, na vivência familiar
e comunitária. A comunicação qualificada depende, adverte o Papa, da fecunda
relação entre silêncio e palavra. São momentos que devem ser alternados e
integrados para se conseguir um diálogo autêntico e uma união profunda entre as
pessoas. Sem a integração entre silêncio e palavra corre-se sempre o risco de
deteriorações, de confusão. O diálogo autêntico é indispensável para a paz.
É muito oportuno,
como força educativa, ter presente que o silêncio é parte integrante da
comunicação. O falar não precedido ou emoldurado pelo silêncio pode não
produzir palavras com densidade e significação. Especialmente palavras que
tenham o sentido de edificar, corrigir e devolver ao coração dos destinatários
a esperança do viver. A sociedade contemporânea é muito barulhenta e
desabituada ao silêncio que proporciona escuta mútua e conhecimento.
Muito importante é
ter clareza acerca do que se quer dizer como também ouvir o outro. O Papa Bento
XVI aponta que, ao nos calarmos, permitimos que a outra pessoa fale, exprima a
si mesma, livrando-nos, por esta escuta, de ficarmos presos a nós mesmos, nas
nossas palavras e ideias. Isto é um desastre em se considerando
responsabilidades familiares, institucionais e cidadãs. Por falta do silêncio
para escutar os outros, nascem os autoritarismos, fixação na própria
compreensão, por vezes até medíocre e comprometedora no que se refere a
conquistas e avanços indispensáveis.
Quem não se cala para
escutar a Deus e aos outros se enrijece na mediocridade. O relacionamento humano
mais pleno e qualificado depende da capacidade de escuta. Quem não se cala para
ouvir não é capaz de gerar relacionamento verdadeiro e não tem força de
produzir sentido sustentador da vida. Na sua mensagem, o Papa diz que “é no
silêncio, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre
aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que
manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o
sofrimento”.
Em se considerando a
abundância de informações e mensagens neste tempo, o silêncio torna-se
essencial para que se possa discernir, entre tantas opções, solicitações e
ofertas, o que é importante, necessário, prioritário, distinguindo o que é
inútil e acessório. A falta de silêncio gera um exagero de palavreado. Perde-se
a indispensável ponderação no compartilhamento de opiniões pertinentes. Por
isso, há quem fale demais, de tudo, e até mesmo do que não é da sua
conta.
O Papa Bento XVI até
diz que “é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de
ecossistema, capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons. Quando se
considera as redes sociais, a procura por respostas, conselhos, sugestões,
informações, um verdadeiro bombardeio sobre as pessoas, o silêncio cria as
condições necessárias para favorecer os discernimentos diante dos inúmeros
estímulos para se chegar ao que é importante e decisivo para a própria vida. A
mensagem do Papa Bento XVI assinala que, “no fundo, este fluxo incessante de
perguntas manifesta a inquietação do ser humano sempre à procura de verdades,
pequenas e grandes, que deem sentido e esperança à existência: Quem sou eu? O
que posso saber? O que devo fazer? Que posso esperar?”.
O silêncio
proporciona a reflexão que pode permitir à pessoa uma descida ao fundo de si
mesma e abrir-se ao caminho de resposta que Deus inscreveu no seu coração. O
silêncio é possibilidade de escutar a Deus e falar com Ele. Há uma lição que
vale ser aprendida e praticada. Educar-se em comunicação, diz o Papa Bento XVI,
é aprender a escutar, a contemplar, para além de falar. É hora de qualificar a
comunicação e o falar. É urgente, para isso, exercitar-se no silenciar para que
a palavra dita seja capaz de gerar vida.